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sabia como clarice

  • Writer: Mari Lima
    Mari Lima
  • Mar 23
  • 4 min read

### **Sabia como Clarice: A Profundidade do Cotidiano e o Mistério do Eu**


Clarice Lispector, mais do que uma escritora, é uma experiência. Sua obra não é lida apenas com os olhos, mas sentida com a alma, como uma corrente que nos arrasta para águas mais profundas, onde as perguntas são tão importantes quanto as respostas. Clarice sabia. Ela sabia traduzir os dilemas humanos em palavras que soam como música e ecoam como verdades. Sabia que o ordinário é extraordinário, que a vida pulsa nos detalhes mais simples, e que o mistério do eu é infinito.


#### **Do Leste Europeu ao Coração do Brasil**


Clarice nasceu em 10 de dezembro de 1920, em Chechelnyk, na Ucrânia, uma terra devastada pela guerra. A migração para o Brasil foi uma fuga em busca de segurança e recomeço. Sua família judaica chegou ao país em 1922, instalando-se em Alagoas, e depois no Recife. Foi lá que Clarice descobriu o português, uma língua que abraçaria como sua, transformando-a em arte.


Desde cedo, Clarice revelou-se uma leitora ávida. Obras de Monteiro Lobato, Dostoiévski e Machado de Assis moldaram sua visão do mundo, mas a escrita de Clarice logo tomaria um rumo próprio, desafiando rótulos e convenções. Mais tarde, ao mudar-se para o Rio de Janeiro, começou a cursar Direito, mas já era evidente que sua vocação estava nas palavras, não nas leis.


#### **O Impacto Literário de Um “Furacão”**


Com apenas 24 anos, Clarice publicou *Perto do Coração Selvagem* (1943), um romance que sacudiu a literatura brasileira. A escrita introspectiva e fragmentada, com uma prosa que parecia fluir diretamente da consciência, era algo inovador. O livro foi premiado, e Clarice ganhou notoriedade. O crítico Antonio Candido descreveu-a como um “furacão”, e a comparação não poderia ser mais apropriada. Sua literatura era avassaladora, mexia com o leitor, desestabilizava as bases do que se esperava de um romance.


Clarice sabia que a literatura não precisava seguir regras para ser verdadeira. Suas obras subsequentemente aprofundaram esse estilo. *A Paixão Segundo G.H.* (1964), por exemplo, narra uma experiência transformadora de uma mulher ao esmagar uma barata. O enredo pode parecer estranho, mas o que importa em Clarice não é o que acontece, e sim como isso é vivido, como os pequenos eventos despertam reflexões gigantescas sobre a existência.


#### **Sabedoria na Palavra e na Vida**


Clarice era uma mulher que vivia intensamente em cada detalhe. Como jornalista, encantava com suas crônicas que misturavam o trivial com o sublime. Em suas entrevistas e colunas, seu olhar para o cotidiano era ao mesmo tempo delicado e profundo. Ela sabia que a vida não se revela apenas em grandes eventos, mas no silêncio, no gesto, no cheiro de café pela manhã.


Essa sabedoria transparece também em seus contos, como em *Laços de Família* (1960), uma coletânea que explora as tensões e ambiguidades das relações familiares. Em histórias como “Amor” e “Devaneio e Embriaguez duma Rapariga”, Clarice mergulha nos sentimentos mais íntimos de suas personagens, revelando verdades universais com uma precisão que dói.


#### **O Mistério de Ser Clarice**


Parte do fascínio por Clarice Lispector está em sua aura misteriosa. Sua beleza exótica e seu jeito enigmático contribuíram para a construção de uma imagem quase mítica. Clarice parecia habitar um espaço entre o comum e o extraordinário, entre o Brasil e o mundo, entre a escritora e o próprio texto.


Clarice sabia ser acessível sem jamais ser óbvia. Mesmo ao falar de si mesma, muitas vezes parecia se esconder nas entrelinhas. Em entrevistas, ela lançava frases curtas, mas carregadas de profundidade. Quando perguntada sobre como escrevia, respondia: **“Eu não escrevo para agradar ninguém. Escrevo porque preciso.”** Essa sinceridade brutal ecoa até hoje entre escritores e leitores.


#### **Legado de Sabedoria e Introspecção**


Clarice Lispector morreu em 1977, mas deixou um legado que transcende o tempo. Suas obras continuam a desafiar e inspirar leitores ao redor do mundo. Elas nos ensinam que a vida é um eterno mistério, que não há respostas definitivas, mas que isso não nos impede de buscar, de sentir, de viver. Clarice sabia que não precisamos entender tudo para apreciar a beleza do que é.


Sua sabedoria vai além das palavras. É uma forma de olhar o mundo e a si mesmo com curiosidade, coragem e entrega. Ao ler Clarice, somos levados a questionar quem somos e a descobrir que a resposta, na verdade, é uma jornada infinita. Como ela mesma escreveu: **“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”**


#### **Sabia Como Clarice: Uma Reflexão**


Clarice Lispector nos mostrou que a sabedoria não é um acúmulo de conhecimentos, mas a capacidade de se maravilhar com a vida. Ela nos ensinou a olhar para dentro, a abraçar nossas contradições e a aceitar que a existência é, acima de tudo, uma experiência única e intransferível. Lê-la é como conversar com uma amiga íntima e, ao mesmo tempo, com um universo inteiro.


Quando pensamos em Clarice, não é só sua literatura que nos fascina, mas sua maneira de ser, sua maneira de sentir. Ela sabia viver nas palavras, e as palavras, através dela, vivem em nós. Afinal, ser sábia como Clarice é sobre ser humana, profundamente humana.


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Se quiser ajustes ou mais nuances, é só pedir! 😊

 
 
 

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